quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Hoje acordei absolutamente normal
Após concluída a batalha de anteontem
E recolhidos os cadáveres
que se amontoavam escandalosamente.

A velha rima já não serve
O amor pede o ardor em nova métrica
Simétrica, no movimento pulsional
Que lhe anima intrinsecamente.

Pela ânsia de falar o poeta
Segue construindo sua psicobiografia
Envolta em palavras nebulosas
Na esperança de ser incompreendido.

E que após a vigília noturna
E os ritos de despedida
Apenas uma lápide lisa
Sinalize a queda do sonho perdido.

terça-feira, 20 de novembro de 2007

Despedida

Hoje abri a janela não mais pra olhar a ti, senhora.
Abri a convite do sol, caloroso,
e da esperança que ele me trouxe.
Mas por velho hábito vou defenestrar
os resquícios de suas ordens insanas,
que sobre mim pairam ameaçadores.
Bato o tapete à janela
Despeço-me dos rastros de meus passos vazios.
Posto que não me pertenciam
Levo a carteira vazia,
mas trago comigo crédito em mim mesmo
como garantia de negócios futuros.

terça-feira, 31 de julho de 2007

Ensurdecimento

Não sei o que é feito desses dias sombrios
de cujas noites silenciosas
revelações não trago.

Será que não visito mais
aquele mundo fantástico
no qual é dito o inadmissível?

Talvez a lua eclipsada
se envergonhe do rito mecanizado
deste vai-e-vem aborrecido.

E os seres míticos,
outrora tão familiares,
já não tenham acesso autorizado.

E o homem caminhe finalmente só,
sem os diálogos filosóficos
com sua mitologia particular

E aqueles deuses, semi-homens, semi-sonhos,
Pronunciem palavras em uma língua morta.
Algo torta. Pra quem cansou de escutar.


domingo, 14 de janeiro de 2007

Negação

Ante o desdém de teu sorriso vitorioso,
que me retém
e me exila à cama vazia
de meu corpo cansado de sonhar.
Pecho-me de pugilista
Ao derrubar tua empáfia
À passos de balé.
E, se amanhã, ao desjejum,
Apenas um lugar à mesa existir
Sentarei-me em regozijo.
Como se fosse eu o vitorioso
Por mais este não-querer.

quinta-feira, 11 de janeiro de 2007

Estranho-conhecido

Não sei quem é este estranho-conhecido
Um lugar invadido por bárbaros
Que nada pilharam,
Mas revolveram a terra que pisaram
em estranho rito de passagem.
Incompreensão nos olhos dos colonos assustados
Que se refugiaram nos escombros de antigas moradas
Intactas.
Mas que já não servem,
Pois se antes terra seca, agora vivificada.

segunda-feira, 8 de janeiro de 2007


Há dias sem palavras.
Nada a dizer.
Ruído preso na garganta
À espera de um xarope que o faça ceder.